quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Sugestão de filme para discutir Argumentação: Doze homens e uma sentença.

A história é bem simples. Doze jurados devem decidir se um jovem, acusado de assassinar o seu pai com uma facada no peito, é culpado ou inocente. Só que onze deles têm a certeza de sua culpa, enquanto o outro não quer votar por culpado apenas por cogitar a possibilidade do réu ser inocente. Não tem a clara certeza de sua culpa, algo que os outros possuem tão claramente. Como a jurisdição americana indica que só deve-se votar pela culpa do réu caso não haja nenhuma dúvida de sua acusação, e como todos os outros onze estão doidos para irem embora e acabarem com aquela 'chatice', o filme começa a criar os seus conflitos. Só que esse pouco caso de seus companheiros de júri acaba servindo de inspiração para que o jurado de número 8, interpretado por Henry Fonda (de Era uma vez no Oeste), busque cada vez mais a certeza dos outros jurados, tentando convencê-los a terem a mesma opinião que a sua, afinal, trata-se de uma vida humana que está em jogo, não um item qualquer.
As discussões são sempre de altíssimo nível. Você vai entrando cada vez mais na história e acaba por tomar partido igualmente aos jurados: ou você vai torcer pela inocência do rapaz, ou pela culpa, ou vai ficar confuso... O impossível é ficar indiferente ao roteiro extremamente bem escrito, curioso e inteligente. E os contra-argumentos são usados de maneira precisa e sem parecerem piegas ou moralistas demais. Vou dar um exemplo. Um jurado, para defender sua posição, utiliza-se de um argumento. Tempos depois, o jurado de número 8 utiliza-se do mesmo argumento para defender a inocência do rapaz. O mesmo jurado que havia utilizado primeiro o argumento, levanta-se e, esperneando, diz que esse tipo de coisa não deve ser levada em consideração. Mas ao invés do personagem de Fonda ir e repronunciar o contra-argumento, ele só olha de um jeito irônico para o outro jurado, que prontamente faz um olhar de perdido no mundo e pronuncia a frase 'isso não quer dizer nada'. Genial esse tipo de situação.
Um recurso que gostei muito é que o início do filme não é guiado por uma narração. Não somos apresentados ao caso por ninguém, não somos introduzidos por falas nem nada. O filme é aberto com imagens do tribunal, uma música suave, depois a situação vai sendo montada aos poucos, tudo através da imagem. Quando menos percebemos, já estamos situados no filme sem que uma palavra sequer seja dita. Depois temos o juiz falando, o que nos dá uma idéia do que está por vir, e todo o resto só sabemos pelo que os jurados falam. Mas sem nunca soar repetitivo, sem nunca nos deixar perdido dos fatos. Vamos construindo mentalmente, junto com eles, tudo o que aconteceu no caso, através do que foi possível entender no testemunho, ou até mesmo com a possibilidade de ter sido apenas um engano de uma pessoa que quis ajudar com seu depoimento.
O interessante é que o ambiente nunca fica cansativo, como poderia facilmente ocorrer. Os ângulos buscam sempre a melhor intensidade dramática, diria que com sucesso, e os planos seqüenciais que acontecem são sempre fantásticos, bem planejados e, o melhor de tudo, necessários para que a cena funcione. Então nunca temos um tom exagerado sendo escrachado na tela. Como falei antes, o olhar é muito valorizado neste filme. Henry Fonda está simplesmente maravilhoso. Em nenhum momento seu personagem diz que o réu é inocente (por completo), ele apenas não tem certeza de sua culpa. E quando os outros estão ansiosos para irem embora, cada briga por uma nova opinião é fantástica. Todos os outros jurados também estão excelentemente bem, conseguem suportar o peso em suas costas das interpretações - de longe, junto com o roteiro, o mais importante do filme.
12 Homens e uma Sentença não fez sucesso quando lançado e, de certa forma, é até compreensível. Mas é inegável que Lumet conseguiu criar uma obra imortal, um profundo estudo sobre reações, preconceitos e estupidez humana. Uma obra que, mesmo com o passar dos anos, continua atual. O mais interessante é que, quem acompanha meus textos há um certo tempo, sabe que não curto muito filmes de tribunais. Mas aqui a trama é tão bem costuradinha, tão bem desenvolvida, os personagens são tão cativantes que fica impossível não adentrar em sua história. Mesmo que esta não saia de uma sala. Mesmo que a sinopse seja tão simples. E mesmo que ela não faça jus ao tamanho da obra que o filme realmente é. É ver para crer. E se impressionar, assim como aconteceu comigo.
Por Rodrigo CunhaA história é bem simples. Doze jurados devem decidir se um jovem, acusado de assassinar o seu pai com uma facada no peito, é culpado ou inocente. Só que onze deles têm a certeza de sua culpa, enquanto o outro não quer votar por culpado apenas por cogitar a possibilidade do réu ser inocente. Não tem a clara certeza de sua culpa, algo que os outros possuem tão claramente. Como a jurisdição americana indica que só deve-se votar pela culpa do réu caso não haja nenhuma dúvida de sua acusação, e como todos os outros onze estão doidos para irem embora e acabarem com aquela 'chatice', o filme começa a criar os seus conflitos. Só que esse pouco caso de seus companheiros de júri acaba servindo de inspiração para que o jurado de número 8, interpretado por Henry Fonda (de Era uma vez no Oeste), busque cada vez mais a certeza dos outros jurados, tentando convencê-los a terem a mesma opinião que a sua, afinal, trata-se de uma vida humana que está em jogo, não um item qualquer.
As discussões são sempre de altíssimo nível. Você vai entrando cada vez mais na história e acaba por tomar partido igualmente aos jurados: ou você vai torcer pela inocência do rapaz, ou pela culpa, ou vai ficar confuso... O impossível é ficar indiferente ao roteiro extremamente bem escrito, curioso e inteligente. E os contra-argumentos são usados de maneira precisa e sem parecerem piegas ou moralistas demais. Vou dar um exemplo. Um jurado, para defender sua posição, utiliza-se de um argumento. Tempos depois, o jurado de número 8 utiliza-se do mesmo argumento para defender a inocência do rapaz. O mesmo jurado que havia utilizado primeiro o argumento, levanta-se e, esperneando, diz que esse tipo de coisa não deve ser levada em consideração. Mas ao invés do personagem de Fonda ir e repronunciar o contra-argumento, ele só olha de um jeito irônico para o outro jurado, que prontamente faz um olhar de perdido no mundo e pronuncia a frase 'isso não quer dizer nada'. Genial esse tipo de situação.
Um recurso que gostei muito é que o início do filme não é guiado por uma narração. Não somos apresentados ao caso por ninguém, não somos introduzidos por falas nem nada. O filme é aberto com imagens do tribunal, uma música suave, depois a situação vai sendo montada aos poucos, tudo através da imagem. Quando menos percebemos, já estamos situados no filme sem que uma palavra sequer seja dita. Depois temos o juiz falando, o que nos dá uma idéia do que está por vir, e todo o resto só sabemos pelo que os jurados falam. Mas sem nunca soar repetitivo, sem nunca nos deixar perdido dos fatos. Vamos construindo mentalmente, junto com eles, tudo o que aconteceu no caso, através do que foi possível entender no testemunho, ou até mesmo com a possibilidade de ter sido apenas um engano de uma pessoa que quis ajudar com seu depoimento.
O interessante é que o ambiente nunca fica cansativo, como poderia facilmente ocorrer. Os ângulos buscam sempre a melhor intensidade dramática, diria que com sucesso, e os planos seqüenciais que acontecem são sempre fantásticos, bem planejados e, o melhor de tudo, necessários para que a cena funcione. Então nunca temos um tom exagerado sendo escrachado na tela. Como falei antes, o olhar é muito valorizado neste filme. Henry Fonda está simplesmente maravilhoso. Em nenhum momento seu personagem diz que o réu é inocente (por completo), ele apenas não tem certeza de sua culpa. E quando os outros estão ansiosos para irem embora, cada briga por uma nova opinião é fantástica. Todos os outros jurados também estão excelentemente bem, conseguem suportar o peso em suas costas das interpretações - de longe, junto com o roteiro, o mais importante do filme.
12 Homens e uma Sentença não fez sucesso quando lançado e, de certa forma, é até compreensível. Mas é inegável que Lumet conseguiu criar uma obra imortal, um profundo estudo sobre reações, preconceitos e estupidez humana. Uma obra que, mesmo com o passar dos anos, continua atual. O mais interessante é que, quem acompanha meus textos há um certo tempo, sabe que não curto muito filmes de tribunais. Mas aqui a trama é tão bem costuradinha, tão bem desenvolvida, os personagens são tão cativantes que fica impossível não adentrar em sua história. Mesmo que esta não saia de uma sala. Mesmo que a sinopse seja tão simples. E mesmo que ela não faça jus ao tamanho da obra que o filme realmente é. É ver para crer. E se impressionar, assim como aconteceu comigo.
Por Rodrigo Cunha