quinta-feira, 13 de agosto de 2009

MEMORIAL DE LEITURA


Por: Tânia Maria Nunes Nascimento



Nunca havia imaginado produzir um memorial de leituras, mas quando comecei a pensar sobre o assunto vieram lembranças gostosas, de coisas simples de menina da roça que viajava nas páginas dos livros querendo conhecer lugares novos, personagens que a inocência jurava existir, castelos encantados ou assombrados, príncipes em cavalos brancos...

Era leitura para diversão, prazer que se misturava às brincadeiras infantis, mas que adubava a semente de uma árvore cujas folhas seriam livros.

Nasci na “roça”, hoje mais conhecida como zona rural, filha de pais que não tiveram oportunidade de estudar, mas que aprenderam com a vida o suficiente para desejarem e lutarem para que seus seis filhos chegassem à Universidade. Minhas primeiras lembranças de leitura são das histórias contadas por eles. Histórias de assombração, lobisomem, mula sem cabeça, mulher da trouxa, moitas de bananeiras que se moviam na calada da noite. Todas contadas como se realmente tivessem acontecido, a partir de uma narrativa eloqüente, entusiasmada, acompanhada de gestos e movimentos teatrais.

Na zona rural só era possível estudar até a quarta série do ensino fundamental. Lá freqüentei a primeira escola que funcionava na casa da professora, especialista em aplicar castigos. A segunda escola, na igreja, era acompanhada por uma professora que havia concluído no ensino médio o curso de Magistério e gostava de ensinar a ler. Estudei na Igreja até a 3ª série, período em que ouvi os contos de fadas, histórias encantadas com princesas e bruxas que encantavam e embalavam o descanso após a correria do recreio.

Para que os filhos pudessem estudar e conquistar melhor espaço na sociedade meus pais se mudaram para a zona urbana do município de Cruz das Almas - Ba. Na cidade freqüentei a 4ª série do ensino fundamental em escola de poucos recursos e nenhuma motivação para leitura prazerosa. Na 5ª série mudei de escola, agora particular, com biblioteca e professores que liam frequentemente ou pelo menos conheciam os livros que indicavam. Tive meu primeiro contato com a série “vaga-lume”. Lembro do primeiro livro “A Ilha Perdida” que causou tamanho encantamento que ainda hoje o guardo e já reli algumas vezes. “O Escaravelho do Diabo”, “Um Cadáver houve Rádio”, Os Barcos de Papel”, “Enigma na televisão”, “Spharion”, todos eles povoaram meu imaginário com um prazer que só histórias magníficas poderiam causar. Além da série infanto-juvenil gostava de ler os livros de Sidney Sheldon e romances que surgiam e eram comentados por colegas como Polyana, Pequeno Príncipe, O Diário de Anne Frank, Feliz Ano Velho e outros que rechearam minha de vida.

Na 8ª série do ensino fundamental tive o primeiro contato com os clássicos da literatura que me acompanham ainda hoje. Destes, alguns autores me encantaram, outros cansaram. Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas e Álvares de Azevedo em O Cortiço sempre foram meus preferidos. Os poemas de Drummond, as crônicas e os contos de autores diversos foram à diversão de tardes monótonas e noites vazias e continuam a preencher momentos que já não são tão vazios, ma que se enriquecem com a poesia de belos textos.

Junto com a leitura, com personagens reais ou fictícios surgiu “o professor”, aquele que plantou em minha alma a leitura como estimulo para escrita. Recém formado em Letras, cheio de novidades, assaz por colocar em prática novas metodologias, o professor Mathias sugeriu livros, poemas e especialmente contos, que hoje acredito era seu estilo preferido.

Na Universidade, no curso de Letras, dei continuidade às leituras, algumas estimuladas por professores apaixonados que defendiam teorias até então inimagináveis por mim, mas que provocavam curiosidade. Neste período as leituras ganharam caráter mais específico, eram definidas em razão da necessidade de complementação dos conhecimentos de disciplinas e importantes ao crescimento pessoal e profissional.

Na atualidade continuo a realizar leituras variando o repertório entre os interesses profissionais e pessoais, considerando que na função de professor a leitura fortalece e atualiza as informações, mas é como pessoa que sinto na alma respostas que só o livro pode dar.